Cirurgia Bariátrica: Quais as dúvidas mais comuns?


Apesar de ser um dos tratamentos mais populares para a obesidade, a cirurgia bariátrica ainda desperta muitas dúvidas. Reunimos as mais ouvidas no consultório.

 – Vou poder comer como antes, mas sem engordar?

Não. A cirurgia bariátrica necessita de reeducação alimentar e atividade física para que os resultados sejam efetivos. O paciente precisar ter em mente que a cirurgia é apenas o início de uma mudança de vida, que inclui alimentar-se corretamente, de forma mais saudável, incluindo no cardápio frutas, verduras, legumes, carnes, cereais integrais, etc. Com a cirurgia o paciente sentirá menos fome (diminui grelina, hormônio da fome) e terá saciedade precoce por ter um estômago de tamanho reduzido. O paciente poderá comer de forma mais comedida, deixando as guloseimas para ocasiões especiais.

– Como ter certeza de que a técnica é regulamentada?

No Brasil existem hoje quatro técnicas regulamentadas pela Resolução nº 1.942/2010 do Conselho Federal de Medicina (CFM), que estabelece normas seguras para o tratamento cirúrgico da obesidade mórbida, definindo indicações, procedimentos e equipe (Duodenal Switch; Bypass; Gastrectomia vertical ou Sleeve; e Banda Sueca Ajustável). As cirurgias mais realizadas no mundo hoje são Bypass gástrico e Sleeve. Existem outras técnicas que estão em fase de estudos.

– Qual o perigo de me submeter a técnicas não regulamentadas?

Profissionais que praticam técnicas não aprovadas pelo CFM estão atuando fora da legislação brasileira e expondo seus pacientes a riscos desnecessários de complicações e morte. Para uma técnica ser aceita, ela precisa ser comprovada por anos de pesquisa clínica e ter perfis de segurança e eficácia aceitáveis, passando pelo crivo dos órgãos regulatórios de saúde de cada país. Prometer soluções mágicas do tipo “coma tudo o que quiser e não engorde” é, no mínimo, mentiroso e antiético.

 – Quais as chances de ganho de peso posterior? Em quanto tempo isso é observado?

Até dois anos após a cirurgia, o paciente ainda está perdendo peso. A partir do momento que esse processo se estabiliza, é possível haver algum ganho, caso o paciente “baixe a guarda” e não se esforce para manter o peso. Esforço significa manter uma dieta balanceada e atividade física, o que é recomendado para os operados ou não. A cirurgia é apenas o primeiro passo rumo a uma nova vida e é preciso abandonar antigos costumes nocivos.

O principal fator para ganho de peso posterior é a não adesão ao tratamento, que não se resume apenas às cirurgias bariátricas. O tratamento deve ser multidisciplinar, ou seja, com médico, nutricionista, psicólogo e educador físico, já que o paciente deverá aprender a viver de uma maneira diferente.

– Como escolher um bom cirurgião bariátrico?

Ao tomar a decisão, procure profissionais habilitados com experiência comprovada na área, evitando aqueles que prometem soluções milagrosas ou que pratiquem técnicas não aprovadas pelo CFM. Procure um médico/cirurgião que trabalhe em equipe de cirurgia bariátrica.

– A mulher que passa por uma cirurgia bariátrica pode engravidar? Ela deve ter algum cuidado extra nesse período?

Recomenda-se que a mulher aguarde cerca de 18 meses depois da cirurgia para engravidar, assim o organismo estará mais adaptado. É importante ter um acompanhamento médico e nutricional durante toda a gravidez , para evitar a carência de vitaminas essenciais para o bebê. Se for o caso, o médico pode indicar uma suplementação oral ou injetável. O pré-natal deve ser acompanhado pelo nutricionista, cirurgião e obstetra.

 – O paciente que vai se submeter à cirurgia deve parar de fumar e de beber? Por quanto tempo? Quanto tempo depois da cirurgia ele pode voltar a fumar e ingerir bebidas alcoólicas?

Quem faz uso destas substâncias têm um risco maior para complicações em qualquer procedimento. Portanto, o ideal é que pare de fumar e de beber por no mínimo 30 dias antes da cirurgia. Além de todos os riscos, a nicotina prejudica a cicatrização da pele, o que pode levar à infecção. As bebidas alcoólicas são agressores das mucosas do estômago e do intestino e reduzem a absorção de alguns nutrientes, por isso devem ser evitadas, sobretudo nos primeiros 6 meses, quando ocorre uma readaptação do trato gastrointestinal. O álcool é absorvido muito rapidamente após a cirurgia e cai na circulação sanguínea podendo levar à embriaguez mesmo com pequenas quantidades.

– O que é o dumping? Todo operado tem?

O operado pode apresentar algum episódio da síndrome de dumping. O consumo de alimentos calóricos doces (pudins, sorvetes, milk-shake, leite condensado, sucos com açúcar, refrigerantes) e gordurosos pode causá-la. O Dumping acontece quando, depois de beber ou comer, o paciente apresenta taquicardia (coração acelerado), sudorese (suor), tontura, queda da pressão arterial e diarréia. Qualquer combinação destes sintomas pode ocorrer em intensidades variadas, dependendo do que a pessoa comeu. Alimentos ricos em açúcares e gorduras, em excesso, não devem fazer parte do cardápio de ninguém, operado ou não.

– Alguns pacientes operados relatam queda de cabelo intensa e unhas quebradiças, entre outros sintomas. Porque eles ocorrem?

Queda de cabelo e unhas quebradiças são sintomas que podem acontecer durante qualquer processo de emagrecimento, seja por cirurgia ou dieta. No caso do paciente bariátrico, esses sintomas não devem persistir por mais de 4 meses.

            Se não houver acompanhamento com a equipe multidisciplinar, o paciente pode apresentar déficit de vitaminas e proteínas, o que pode levar a estes sintomas. Nesses casos, é preciso rever a alimentação com o nutricionista e, se necessário, iniciar suplementação vitamínica oral ou injetável.

– Quais as possíveis complicações durante e após a cirurgia?

Os riscos são os mesmos de outras cirurgias abdominais, por isso a bariátrica deve ser feita em um hospital com estrutura adequada e uma equipe acostumada com o procedimento. Raramente a cirurgia bariátrica pode gerar complicações como infecção, tromboembolismo (entupimento de vaso sanguíneo), deiscências (separações) de suturas, fístulas (desprendimento do grampo), obstrução intestinal, hérnia no local do corte, abscessos (infecções internas) e pneumonia.

 – O efeito da pílula anticoncepcional após a cirurgia pode ser reduzido?

Nas cirurgias restritivas não há problemas, mas nas cirurgias que privilegiam a mal-absorção, pode ser que a pílula anticoncepcional tenha eficácia reduzida. Em alguns casos, recomenda-se a utilização de outros métodos anticoncepcionais como o DIU, implante ou injeção. Essa é uma avaliação que deve ser feita juntamente com o ginecologista.

 – É necessário fazer suplementação de vitaminas? Por quanto tempo?

O paciente submetido à cirurgia bariátrica deverá ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar. Ele deverá realizar exames de rotina e a reposição com polivitamínicos deverá ser realizada. No entanto, se o paciente conseguir manter uma alimentação adequada, rica em carnes magras, verduras, legumes, frutas e massas integrais, a suplementação vitamínica em raros casos não será necessária.

            Com o estilo de vida moderno, os suplementos vitamínicos entram como aliados para combater os sinais da falta de nutrientes (fraqueza, queda de cabelo, unhas quebradiças, dor de cabeça).

– Depois da operação, terei que fazer exercícios físicos?

Sim. Os exercícios físicos fazem parte do tratamento da obesidade, independente da técnica utilizada. Os benefícios do exercício são ainda maiores para os operados: aceleração do processo de emagrecimento, ganho de massa magra (músculo), redução da flacidez, melhora do condicionamento físico, melhora do desempenho cardiorrespiratório, fortalecimento dos ossos e ganho de disposição.

 – Quanto tempo dura o processo de emagrecimento? Há risco de emagrecer demais?

            Perde-se peso mais rapidamente no primeiro e no segundo ano após a cirurgia, mas a velocidade do emagrecimento vai diminuindo até estacionar, geralmente por volta do segundo ano. Todo ser humano tem um peso ideal em torno do qual o corpo tende a se estabilizar, ainda que pequenas variações para mais ou para menos sejam comuns.

– A cirurgia bariátrica é reversível?

            Apenas a gastrectomia vertical (onde um pedaço do estômago é retirado) e o duodenal switch (hoje pouco realizada) não são reversíveis mas podem ser modificadas. As demais técnicas como o Bypass gástrico podem ser revertidas. No entanto, a reversão é extremamente complicada, oferece mais riscos do que a cirurgia em si e só é realizada em casos extremos. Se o paciente está com peso normal estável e as doenças estão controladas, não há razão para desfazer o procedimento.

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