Cirurgia Bariátrica e Obesidade


“Dr., luto contra a balança a vida inteira, já tentei todas as dietas e tratamentos possíveis, mas nunca consigo perder peso e, quando perco, não consigo mantê-lo”.

Você se identifica com essa frase?

Então, te convido a entender os mecanismos da obesidade e sua relação com a cirurgia bariátrica.

– Obesidade: O que é?

A obesidade é uma doença crônica e multifatorial, sendo impactada principalmente pela genética, pela ingestão excessiva de calorias (consumir mais do que o gasto calórico do organismo), sedentarismo e fatores hormonais.

Além do impacto na saúde física, o excesso de peso pode prejudicar a autoestima e o bem-estar social do paciente.

A cirurgia bariátrica e metabólica é uma das formas de tratamento da obesidade, que além da perda de peso, proporciona a remissão de doenças associadas, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, apnéia do sono, colesterol elevado, entre outras. A diminuição do risco de mortalidade, aumento da longevidade e melhora da autoestima e qualidade de vida também estão entre os benefícios gerados pela cirurgia.

– Como é realizado o diagnóstico de obesidade?

O diagnóstico é feito pelo IMC (Índice de Massa Corpórea), que avalia o estado nutricional do paciente. O cálculo é realizado com peso (kg) dividido pela altura² (m).

Quando o IMC é maior do que 30 kg/m², a pessoa é considerada obesa.

  • Peso normal: IMC entre 18,5 e 25
  • Sobrepeso: IMC entre 25 e 30
  • Obesidade Grau I: IMC entre 30 e 35
  • Obesidade Grau II: IMC entre 35 e 40
  • Obesidade Mórbida: IMC acima de 40

Quanto maior o índice, mais chances de desenvolver doenças e problemas diretamente ligados à pior qualidade de vida e menor longevidade.

– Quais são os impactos da obesidade?

O acúmulo de gordura no organismo aumenta o risco de doenças como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, aumenta a probabilidade de doenças cardiovasculares como infarto e AVC, além disso, está associada ao surgimento de alguns tipos de câncer, aumento do colesterol e triglicerídeos, apnéia do sono, cansaço durante o dia, esteatose hepática (gordura no fígado), aumento da taxa de infertilidade em mulheres e refluxo alimentar.

O excesso de peso pode trazer ainda prejuízos para as relações pessoais e profissionais, pois essas pessoas são mais propensas à depressão e ansiedade.

A obesidade pode não provocar sinais e sintomas antes de chegar aos graus II e III (mórbida), agindo como uma doença silenciosa. No entanto, pode ter impactos na saúde, mesmo nos estágios iniciais. Um exemplo é a sobrecarga da coluna e dos joelhos, facilitando o surgimento de artrose com o passar do tempo.

– Para quem a cirurgia é indicada?

            Conforme a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), estão aptos a fazer pacientes com:

  • IMC entre 30 e 35 na presença de comorbidades que tenham a classificação “grave” por um médico especialista na área;
  • IMC entre 35 e 40 na presença de comorbidades;
  • IMC > 40, independentemente da presença de comorbidades.

– Como é a cirurgia bariátrica? Existe algum risco?

As cirurgias mais realizadas no mundo hoje são Bypass gástrico e Sleeve. Ambas são autorizadas e regulamentadas pelo Conselho Federal de Medicina, sendo consideradas cirurgias seguras e eficientes.

O Bypass gástrico é considerado uma cirurgia mista que consiste em diminuir o tamanho do estômago, além de fazer um desvio no intestino para menor absorção dos alimentos. Já o Sleeve é considerado uma cirurgia restritiva, pois é retirado cerca de 70 a 80% do estômago, deixando-o menor, restringindo a ingestão alimentar.

Ambos os procedimentos diminuem o hormônio grelina, responsável pela fome, promovendo sensação de saciedade e diminuição da ingestão exagerada de alimentos.

Sleeve x Bypass: qual é a melhor?

 Não existe uma técnica cirúrgica absolutamente perfeita. Cada uma possui vantagens e desvantagens.

O ideal é avaliar juntamente com o cirurgião e a equipe multidisciplinar qual a técnica que melhor se encaixa no perfil do paciente.

Com o desenvolvimento das novas tecnologias, monitorização do paciente, medicações anestésicas mais seguras e a videolaparoscopia os riscos hoje de uma cirurgia bariátrica são menores que 1%.

Entretanto, apesar de baixos, riscos existem em qualquer procedimento cirúrgico e por essa razão, deve ser feita em hospital com estrutura adequada e por médicos habilitados e com experiência comprovada. Por isso orientamos aos pacientes que se informem antes sobre a experiência do profissional escolhido.

– Como escolher um bom cirurgião bariátrico?

Ao tomar a decisão, procure profissionais habilitados com experiência comprovada na área, evitando aqueles que prometem soluções milagrosas ou que pratiquem técnicas não aprovadas pelo CFM. Procure um médico/cirurgião que trabalhe em equipe de cirurgia bariátrica.

– Como será após a cirurgia?

Nos primeiros dias de pós-operatório, o paciente está liberado para fazer atividades habituais do cotidiano como caminhar pela casa, subir ou descer escadas. Sem realizar esforço físicovigoroso.

Um mês após a cirurgia e sob orientação médica, o paciente pode iniciar atividades físicas. Está liberado para iniciar treinamento com pesos para fortalecimento dos músculos e ganho de massa magra. Exercícios cardiovasculares também são fundamentais com intuito de criar resistência, como caminhadas, andar de bicicleta e aeróbico aquático. Lembrando que cada paciente tem seu tempo, a indicação tem que ser individualizada.

– Benefícios relacionados com a perda de peso

Com a perda de peso, observa-se uma melhora importante nas doenças relacionadas à obesidade como: diminuição da probabilidade de doenças cardíacas, pressão alta, níveis de colesterol, apnéia do sono, diabetes tipo 2, acidente vascular cerebral, infertilidade, refluxo gastroesofágico, além de diminuir a probabilidade de alguns tipos de cânceres (intestino, útero, esôfago, mama, pâncreas, rins e vesícula).

– Por quê acompanhar com a nutricionista é fundamental após a cirurgia bariátrica?

Esse profissional deverá prestar toda a orientação necessária para a dieta líquida pós-operatória, sua evolução para a pastosa e, finalmente, sua transição definitiva para a alimentação normal.

O paciente deverá aprender a se alimentar com qualidade e adquirir o hábito de fracionar as refeições em pequenas quantidades ao longo do dia,abandonando hábitos nocivos.

A reeducação alimentar, o consumo adequado de proteínas e a suplementação vitamínica são de extrema importância para a manutenção de peso e qualidade de vida.

O paciente não está proibido de consumir doces, refrigerantes ou outras guloseimas de vez em quando, porém esses alimentos não devem fazer parte de sua rotina e a quantidade deve ser controlada.

– Pode engravidar após a cirurgia bariátrica?

A gravidez é considerada mais segura em pacientes pós cirurgia metabólica e com riscos menores de complicações em relação a de uma mulher obesa. A fertilidade, chance de gestação, aumentará devido a perda de peso. Em caso de gravidez no pós-operatório é importante o acompanhamento do ginecologista e do cirurgião para repor a demanda das vitaminas.

As pacientes que passaram pelo procedimento cirúrgico devem aguardar no mínimo 18 meses para tentar engravidar, devido ao fato da rápida perda de peso nesse período estar relacionado a uma instabilidade nutricional — que pode trazer riscos ao feto.

– O que significa o termo “borboletar”?

            O termo “borboletar” representa muito bem a transformação de saúde e de vida que gerada pela cirurgia metabólica. O ciclo de vida das borboletas demonstra as forças para suportar e superar os obstáculos impostos pelo procedimento. O termo é utilizado por milhares de pacientes em pós e pré-operatório da cirurgia bariátrica, caracterizando uma rede de ajuda. A borboleta é o símbolo de transformação e mudança de vida para melhor.

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